Médica admite erro em prescrição de adrenalina que tirou a vida de Benicio em Manaus

A médica Juliana Brasil Santos admitiu ter cometido um erro ao prescrever uma medicação para Benício Xavier, de 6 anos, que acabou morrendo após recebê-la por via intravenosa. A informação consta no relatório do hospital enviado à Polícia Civil, ao qual a Rede Amazônica teve acesso com exclusividade.

De acordo com os pais, o menino morreu depois de receber uma dosagem incorreta durante o atendimento realizado entre sábado (23) e a madrugada de domingo (24). A denúncia foi formalizada na terça-feira (25).

Na manhã desta sexta-feira (28), a médica e a técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva chegaram à delegacia por volta das 9h30 para prestar depoimento. Ambas cobriram o rosto ao entrar na unidade.

No documento enviado às autoridades, a médica relata que comentou com a mãe da criança que a medicação deveria ser administrada por via oral. Ela também afirmou ter ficado surpresa por a equipe de enfermagem não ter questionado a prescrição.

Outro relatório, elaborado pela UTI Pediátrica, confirma que Benício deu entrada após a “administração errônea da medicação na veia”. O documento descreve que o menino apresentou taquicardia, palidez e dificuldade para respirar, além de um quadro de “infecção por drogas que afetam o sistema nervoso”.

A Polícia Civil aponta Juliana Brasil como principal responsável pela prescrição. A técnica de enfermagem Raíza foi quem aplicou a dose registrada nos prontuários.

O delegado responsável pelo caso pediu a prisão preventiva da médica, argumentando que a criança foi vítima de homicídio doloso — quando há intenção ou assunção de risco.

“Se ela continuar em liberdade, pode trabalhar em outro hospital e colocar outras vidas em risco. Se não verificou a prescrição para uma criança de seis anos, resultando em morte, quem garante que não repetirá o erro?”, declarou o delegado Marcelo Martins.

Na noite de quinta-feira (27), o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) concedeu habeas corpus preventivo à médica, impedindo sua prisão durante as investigações.

Troca de acusações e acareação

Ao deixar a delegacia, a técnica de enfermagem afirmou que apenas seguiu a ordem da médica. Segundo a Polícia Civil, houve troca de acusações entre as duas durante os depoimentos. Por causa das versões divergentes, será marcada uma acareação entre elas.

Defesa questiona investigação

O advogado da médica, Felipe Braga de Oliveira, disse que Juliana não deveria responder por homicídio doloso e que a defesa vai contestar a linha adotada pela polícia.

Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Ele afirma que a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de medicação intravenosa, 3 ml a cada 30 minutos.

A família disse ao g1 que chegou a questionar a técnica de enfermagem ao ver a prescrição. De acordo com Bruno, logo após a primeira aplicação, Benício apresentou uma piora repentina.

“Meu filho nunca tinha tomado essa medicação pela veia, apenas por nebulização. Perguntamos, e a técnica disse que também nunca havia aplicado por via intravenosa. Disse que estava na prescrição e que iria cumprir”, relatou o pai.

Após a reação adversa, a criança foi levada para a sala vermelha, onde o quadro se agravou. A oxigenação caiu para cerca de 75%, e uma segunda médica foi chamada para monitoramento cardíaco. Pouco depois, pediram um leito de UTI, e Benício foi transferido no início da noite.

Na UTI, o quadro piorou ainda mais. A equipe informou que seria necessária a intubação, realizada por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas.

O pai relatou que o sangramento ocorreu porque o filho vomitou durante a intubação. Após as primeiras paradas, o estado de Benício continuou instável, até que, minutos depois, ele voltou a apresentar piora e não respondeu às manobras de reanimação. A morte foi confirmada às 2h55 de domingo.

“Queremos justiça por Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos enfrentando. Não desejamos essa dor para ninguém”, afirmou o pai.

Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que a médica e a técnica foram afastadas e que uma investigação interna foi conduzida pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente. O hospital disse ainda que, como o caso está sob investigação da Polícia Civil, não irá se manifestar.

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